Como parte das comemorações do segundo aniversário de “Words Heal the World”, conversamos com Beatriz Buarque, fundadora da organização. No mês passado, o Words Heal foi premiado pela Michigan State University com um importante prêmio: The Transcendence Award. Como amamos criar coisas novas, decidimos fazer uma entrevista diferente. Eu a entrevistei e ela me entrevistou. Os resultados? Você vê aqui.

 

Ignacio Albor: Qual foi sua primeira reação quando a MSU lhe disse que o Words Heal foi indicado para o prêmio Transcendence Awards?

Beatriz Buarque: Eu não tinha ideia de que estávamos concorrendo a esse prêmio. Fui à Michigan State University para participar de uma cúpula, a Global Youth Advancement Summit. Foi uma grande honra para mim estar entre os 200 jovens líderes escolhidos para participar da cúpula. Houve um jantar de gala e quando chegamos lá, percebemos que haveria uma cerimônia de premiação. Todo mundo estava se perguntando o que era isso porque nós não sabíamos que a universidade daria um prêmio para alguns dos projetos criados por pessoas que participavam da cúpula. Quando a reitora assistente começou a explicar o significado da palavra transcendência, minha vida passou diante dos meus olhos porque quando terminei meu mestrado no Reino Unido, Words Heal the World era apenas um projeto, mas as pessoas começaram a se referir a ele como uma organização. Por isso, quando voltei para o Brasil, tive que tomar uma decisão: eu o manteria como projeto e ele provavelmente morreria, ou eu o registraria como uma ONG e começaria a procurar patrocinadores para alcançar um impacto maior? Eu nunca me vi como uma empreendedora e a possibilidade de administrar meu próprio negócio era assustadora. No entanto, decidi registrá-lo porque meu coração estava me dizendo que era a coisa certa a fazer. Foi difícil. Muitas pessoas me disseram que eu era louca, me sentia terrivelmente sozinha, mas os estudantes me davam a mão para levantar sempre que eu sentia que não seria capaz de continuar. Então, quando ela anunciou que Words Heal the World transcendeu, eu comecei a chorar porque, sim, nós transcendemos. Nós só alcançamos esse nível porque trabalhamos juntos. Words Heal the World não é sobre mim. É sobre nós. Eu apenas tive uma ideia e comecei a inspirar os alunos a usar suas habilidades para desafiar o ódio. Costumo dizer que os jovens só precisam se sentir inspirados. Uma vez que eles são inspirados, sua criatividade flui e eles começam a desenvolver estratégias para combater o extremismo por si mesmos. Eu recebo mensagens dos alunos no fim de semana, à noite, porque suas mentes estão trabalhando para construir um mundo melhor. O maior desafio de trabalhar com jovens é o desengajamento e no Words Heal não temos esse problema porque os jovens são os principais atores. Eles sabem que o Words Heal pertence a eles e, portanto, naturalmente começam a desenvolver estratégias. Eu acredito que é por isso que somos tão diferentes de outras organizações. Não é porque desenvolvi uma metodologia única para combater o extremismo. É porque somos realmente uma família. Os laços que nos conectam vão além do acordo de voluntariado.

 

Beatriz Buarque: Como o Words Heal impactou a sua vida?

Ignacio Albor: Como você acabou de dizer, o WHW me inspirou a continuar lutando pelo que acredito. Isso me deu esperança de que as coisas podem mudar de uma maneira melhor, e nós não deveríamos esperar que as mudanças fossem feitas, nós temos que fazê-las acontecer. Words Heal também me deu a possibilidade de conhecer pessoas de todo o mundo, com diferentes culturas e diferentes realidades, mas todas lutando pelo mesmo objetivo: combater o extremismo. Este fato me ajudou a abrir minha mente em diversas maneiras para entender questões e dilemas globais, além de me presentear com novos amigos e colegas que eu guardarei para sempre em meus pensamentos.

Ignacio Albor: WHW não é uma ONG normal. Como se sente em administrar uma organização de estudantes de todo o mundo e agora reconhecida internacionalmente por outras instituições de prestígio?

Beatriz Buarque: Boa pergunta! Parece uma mudança de vida! Trabalhar com alunos teve um impacto tão grande na minha vida que meu coração não se encaixava mais na redação. Eu simplesmente não conseguia me readaptar quando voltei para aTV que me ensinou tudo o que sei hoje. No Words Heal, nos tornamos amigos de nossos alunos e é assim que temos relacionamentos construídos na confiança. Eles compartilham seus problemas comigo e eu também compartilho alguns dos meus problemas com eles para que eles saibam que eu também sou um ser humano, que também me sinto insegura, que também cometo erros. Devido a esse relacionamento especial, consigo identificar vulnerabilidades e ajudar os alunos. Foi assim que ajudei alunos a lidar com a depressão e alguns deles aumentaram sua auto-estima durante o tempo que passaram conosco. Quando começamos a trabalhar com um aluno que não acredita em si mesmo, que se sente solitário, e alguns meses depois vemos o mesmo aluno confiante, desenvolvendo estratégias para desafiar o ódio e inspirando outras pessoas a usar as mídias sociais para a paz, quando vemos esse aluno emergindo como um líder, isso não tem preço! Isso prova que conseguimos tocar seu coração e causar impacto não só em sua vida, mas também nas pessoas que o cercam. Agora imagine a mesma coisa acontecendo com duas, três dúzias de estudantes? O impacto disso é enorme e é isso que estamos fazendo no Reino Unido, no Brasil e na América Latina. O prêmio Transcendence reconheceu nosso impacto e, honestamente, acredito que começamos a alcançar esse impacto. Os jovens sabem que as razões que me motivaram a criar o Words Heal são verdadeiras porque, apesar da falta de financiamento (fizemos tudo isso sem financiamento), estamos surgindo como uma referência quando se trata de iniciativas para capacitar os alunos a combater o extremismo. E estamos chegando a essa posição porque fazemos isso com os nossos corações e eu encorajo os diretores que trabalham comigo a não se colocarem em uma posição mais alta em comparação aos estudantes. Nós somos iguais. Nós estamos aprendendo. Estamos dedicando nosso tempo para criar ideias inovadoras para desafiar o ódio e construir um mundo melhor. Estamos todos no mesmo barco. Se você me perguntasse o que diferencia o Words Heal de outras organizações, eu diria: o que nos diferencia é o fato de desafiarmos o ódio com nossos corações. Quando gostamos de alguém, nos conectamos emocionalmente com essa pessoa e não temos uma hierarquia. Nós nos colocamos no mesmo nível que essa pessoa. Isso é exatamente o que fazemos. Estudantes e jornalistas que fazem parte do Words Heal: somos iguais. Nós nos importamos um com o outro. Nós somos família!  

Beatriz Buarque: Por que você acha que o Words Heal é diferente de outras organizações?

Ignacio Albor: Em WHW todos nós temos uma palavra. Temos total liberdade de expressão e todos nós temos o direito de falar. Todo mundo vai ouvir suas idéias sem nenhum preconceito. A única condição para fazer parte das organizações é ter uma mente aberta e a vontade de mudar o mundo.

Ignacio Albor: Em que sentido um prêmio internacional muda o futuro do WHW?

Beatriz Buarque: Eu acredito que este prêmio nos dará a visibilidade que precisamos para atrair patrocinadores. Produzimos quatro curta-metragens, desenvolvemos três campanhas nas redes sociais e organizamos dois eventos – tudo sem patrocínio. Nosso site tem mais de 160.000 visitas, temos milhares de seguidores no Facebook e atuamos no Reino Unido, no Brasil e na América Latina. Fizemos tudo isso sem patrocínio. Imagine o que podemos fazer se tivermos patrocinadores? Temos a intenção de financiar as viagens dos alunos para produzir conteúdo para desafiar o ódio, interagir com pessoas de diferentes culturas e desafiar seus próprios preconceitos. Também queremos organizar uma conferência para reunir nossas organizações parceiras e nossos alunos porque um dos nossos objetivos é construir pontes entre os estudantes e as organizações da sociedade civil. Isso seria incrível!

Beatriz Buarque: O que você acha que poderiam ser os próximos passos do Words Heal?

Ignacio Albor: Espero que a ONG continue a incluir mais jovens entusiastas para continuarem a pensar em soluções para os problemas que temos como sociedade. Para gerar um espaço onde possamos debater ideias e trazer a visão do mundo um do outro em que vivemos.

Ignacio Albor: Quais são os próximos objetivos do WHW?

Beatriz Buarque: Os próximos objetivos da WHW são: começar a treinar estudantes dos Estados Unidos, estabelecer uma parceria com uma universidade argentina para expandir o alcance de nossas ações na América Latina e organizar o Dia Contra o Anti-semitismo simultaneamente no Reino Unido, EUA, Brasil e Argentina. Esse é um sonho que eu realmente quero transformar em realidade.

 

Beatriz Buarque: Words Heal the World, para você, significa…  

Ignacio Albor: Diversidade, conhecimento e cooperação. E essas são as coisas mais importantes para mudar o mundo.  

Por Ignacio Albor (University of Westminster-Reino Unido)

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