Após massacres como o de Suzano, no Brasil, e Christchurch, na Nova Zelândia, o jornal brasileiro “O Estado de Minas” mudou a forma de noticiar acontecimentos relacionados ao ódio e ao extremismo. A direção do jornal, que circula diariamente em Minas Gerais – segundo estado mais populoso do país – decidiu parar de divulgar imagens feitas por terroristas. Carlos Marcelo Carvalho, diretor de redação do jornal, falou ao Words Heal the World sobre a importância de evitar o enaltecimento de indivíduos envolvidos em ataques terroristas e enfatizou a importância de mostrar a solidariedade e a empatia da sociedade com as vítimas e seus familiares.
O comprometimento em não mostrar, de forma enaltecida, os autores de crimes hediondos, como massacres, é um grande passo para combater o discurso de ódio. Qual a principal mensagem que esse comprometimento passa para outros veículos jornalísticos?
Carlos Marcelo Carvalho: Acho que a mensagem principal é dirigida não a outros veículos jornalísticos, mas à sociedade. Dito isto, acreditamos que a nossa atitude, ainda que fique restrita apenas ao Estado de Minas, pode ao menos provocar uma reflexão de outros meios de comunicação: será que vale a pena dar tanta exposição aos algozes de tantas vidas?
A primeira ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, disse que não iria mencionar o nome do autor do massacre de Christchurch em nenhum meio de comunicação. Na sua opinião, terroristas cometem atentados para ganhar ainda mais visibilidade para suas causas?
CMC: Acho que criminosos como o autor do massacre na Nova Zelândia são movidos não apenas pelo ódio e pela ausência de empatia, mas também pela vaidade. Querem a fama, querem a notoriedade. Ao não expor o nome nem o rosto dele, haverá ao menos essa frustração. E que pode, quem sabe, inibir outros potenciais assassinos impulsionados pelo mesmo combustível deplorável.
Na sua opinião, porque alguns meios de comunicação acabam dando espaço demais para terroristas?
CMC: Depende de cada veículo. Acredito que boa parte deles queira fornecer informações ao público, mas infelizmente alguns acabam buscando também a audiência a qualquer preço.
Em que momento a busca pelo entendimento do ocorrido, no caso de reportagens relacionadas a massacres, ultrapassa a linha da informação e passa a dar espaço para os criminosos terem seu feito “vangloriado” pela mídia?
CMC: Quando repetimos ad nauseam um vídeo de um massacre, por exemplo. Ou quando fornecemos detalhes minuciosos da preparação do ato. Ou ainda quando divulgamos manifestos ou declarações de ódio dos assassinos.
Em um caso como o da Nova Zelândia, como deveria ser uma cobertura respeitosa e justa com as vítimas, na sua opinião?
CMC: Acho que o foco poderia estar nas ações, incisivas e rápidas, do governo neozelandês para inibir a divulgação da identidade do autor do massacre. E divulgar ao máximo gestos e atos da sociedade para combater o ódio e incentivar a empatia.
Por Gabriel Jereissati (UFRJ – Brazil)